O LIVRO

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domingo, 5 de julho de 2015

Nossa História - BRASIL NO OLHAR DOS VIAJANTES - "DEBRET"

Barbeiros ambulantes, aquarela, Jean Baptiste Debret, 1826


Jean-Baptiste Debret ou De Bret (Paris, 18 de abril de 1768 — Paris, 28 de junho de 1848) foi um pintor, desenhista e professor francês. Integrou a Missão Artística Francesa (1817), que fundou, no Rio de Janeiro, uma academia de Artes e Ofícios, mais tarde Academia Imperial de Belas Artes, onde lecionou em uma fazenda.

De volta à França (1831) publicou Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil (1834-1839), documentando aspectos da natureza, do homem e da sociedade brasileira no início do século XIX. Uma de suas obras serviu como base para definir as cores e formas geométricas da atual bandeira republicana, adotada em 19 de novembro de 1889.

Sobre a obra Viagem pitoresca e histórica ao Brasil:

Em Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, Debret revela sua profunda relação pessoal e emocional com o país, adquirida nos 15 anos em que ali viveu.
Jean-Baptiste Debret - gerreiro indígena a cavalo

Apesar de ter alegado motivos de saúde para retornar à França, há outras duas hipóteses para sua volta: deveria talvez querer o retorno para se reencontrar com familiares, além de organizar o primeiro volume de Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Outra hipótese sugere que, como em 1831 tinha 63 anos, sua obra seria uma espécie de "trabalho para aposentadoria", visto que uma tal produção (almanaques de viajantes - livros com textos acompanhando imagens) fazia bastante sucesso no início do século XIX - quando Debret partiu para o Brasil - e poderia render uma boa aposentadoria (o que de qualquer forma não foi o que acabou acontecendo: quando da volta à França, esse tipo de publicação já não fazia o mesmo sucesso e a obra causou pouco impacto na França).

Debret tenta mostrar aos leitores - em especial europeus - um panorama que extrapolasse a simples visão de um país exótico e interessante apenas do ponto de vista da história natural. Mais do que isso, tentou criar uma obra histórica; mostrar com detalhes e minuciosos cuidados a formação - especialmente no sentido cultural - do povo e da nação brasileira; procurou resgatar particularidades do país e do povo, na tentativa de representar e preservar o passado do povo, não se limitando apenas a questões políticas, mas também a religião, cultura e costumes dos homens no Brasil.

Por estas razões, a obra de Debret é considerada grande contribuição para o Brasil, e é frequentemente analisada por historiadores como uma representação (um tanto quanto realista, apesar de não ser perfeita) do cotidiano e sociedade do Brasil – em especial, da vida no Rio de Janeiro – de meados do século XIX. 
Jean-Baptiste Debret - castigo a escravo

Publicada em Paris, entre 1834 e 1839, sob o título Voyage Pittoresque et Historique au Brésil, ou séjour d´un artiste française au Brésil, depuis 1816 jusqu´en en 1831 inclusivement, a obra é composta de 153 pranchas, acompanhadas de textos que elucidam cada retrato.

Tal estilo de obra  não era muito comum entre os artistas que vinham ao Brasil para retratar o país, o que aumenta ainda mais o destaque e importância de Debret: a obra não é considerada tão importante apenas por aspectos artísticos, mas justamente pela combinação de interesse em retratar o cotidiano, com a presença de textos descrevendo as litografias. Preocupando-se com o sentido dos textos, Debret os compara com as ilustrações contidas em seus trabalhos, e é por isso que o aspecto historiográfico é colocado em primeiro plano em relação ao aspecto propriamente artístico.

 
Em "Cena de carnaval", de Debret, escravas de ganho
 em meio à violência do entrudo
O próprio título da obra de Debret apresenta este certo compromisso que ele tentou adquirir nas representações e descrições do Brasil. O uso da palavra “pitoresca” no título Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil denota uma certa precisão, habilidade e talento; características que buscou em suas representações. Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil pode ser considerada uma obra em estilo europeu, feita para europeus, visto que o estilo de livro (almanaque) fazia um certo sucesso na Europa na época. 

O livro é dividido em 3 tomos: no primeiro, de 1834, estão representados índios, aspectos da mata brasileira e da vegetação nativa em geral. O segundo tomo, de 1835, concentra-se na representação dos escravos negros, no pequeno trabalho urbano, nos trabalhadores e nas práticas agrícolas da época. Já o tomo terceiro, de 1839, trata de cenas do cotidiano, das manifestações culturais, como as festas e as tradições populares.



EXPOSIÇÃO DAS OBRAS DE DEBRET:

Os Museus Castro Maya, localizados nos bairros cariocas de Santa Teresa e Alto da Boa Vista, possuem alguns dos mais completos acervos das obras de Jean-Baptiste Debret (1768-1848), o francês que viveu por 15 anos no Rio de Janeiro – onde fundou uma escola de belas-artes e foi nomeado o pintor oficial da corte. Mas a coleção Castro Maya é pouco vista pelo público: apenas uma fração dos quadros se encontra em exposição regular.

“Os desenhos e as gravuras eram a única forma de as pessoas conhecerem lugares distantes, e os europeus tinham muita curiosidade por esses locais exóticos do Novo Mundo, como o Brasil”, diz Anna Paola Baptista, curadora da exposição. “Debret é o cronista maior da vida brasileira na primeira metade do século XIX. Ele acompanhou e documentou visualmente o início do Brasil como nação independente, e especialmente o Rio de Janeiro.”

Depois da queda de Napoleão Bonaparte, Debret aceitou o convite de D. João para integrar a missão artística que viria ao Brasil e criar uma escola de belas-artes. A morte do único filho, aos 19 anos de idade, também contribuiu para a decisão de Debret de deixar a França. Instalado no Rio em 1817, retratou o cotidiano e os costumes dos cariocas.

O dia a dia nas praças, mercados e no cais do porto, a negociação de escravos no centro, e a movimentação dos cidadãos nas ruas. Pintou também ocasiões históricas, como a aclamação do Dom João VI, a ascensão de D. Pedro I com a proclamação da independência, em 1822, a chegada de D. Leopoldina e a coroação de D. Pedro II, em 1831. Pouco depois, Debret retornaria à França, onde editaria o livro Viagem histórica e pitoresca ao Brasil, compilando sua visão do país.
A importância do artista, responsável por apresentar o Brasil à Europa, se tornaria crucial também no país que retratou. “Ele se tornou um cronista do nosso passado. Nós passamos a imaginar o Rio do início do século XIX por meio das gravuras de Debret. Seus desenhos ilustram há gerações os livros didáticos de história do Brasil”, completa a curadora.



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