O LIVRO

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segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Nossa História - O PORQUE DA ESCRAVIDÃO AFRICANA NO BRASIL


MERCADO DE ESCRAVOS
Na pintura Mercado na Rua do Valongo, o pintor francês Jean
Baptiste Debret (1768-1848) dá a sua versão de como era o local,
no Rio de Janeiro, onde africanos recém-chegados de seu
continente eram colocados à venda como escravos  


Embora o tema escravidão seja estudada na escola, e o material didático seja rico em detalhes o tema não é explorado de maneira que responda a importante questão: por que a mão de obra escrava usada no Brasil colonial foi formada essencialmente por negros africanos,
em vez dos índios nativos?
Essa maneira de ensinar a história – sem explicitar as razões para a escravização do negro -- contribui para difundir a ideia errônea de que a África era um continente em que se vivia nessa condição.
A palavra slave (‘escravo’, em inglês) vem de eslavo, evidenciando o fato pouco comentado de que na Baixa Idade Média a maioria dos cativos era de origem eslava”, A Europa foi um manancial de
escravos para os reinos do Oriente Médio, mas o ensino da História, por ser eurocêntrico, não mostra essa questão. O regime escravista se inseria no contexto do mercantilismo – o primeiro momento do capitalismo. A produção da colônia não era destinada à subsistência, e sim à comercialização – o objetivo era o lucro. Para explorar o máximo o sistema colonial, as metrópoles européias reinventaram a escravidão, a partir do século XV. E fizeram isso de uma forma eficiente para seu enriquecimento. Além de fornecer trabalhadores para as colônias, criaram um fluxo de comércio muito vantajoso: compravam barato escravos africanos e os vendiam caro para os donos de plantações na América. Para ter muita oferta de escravos, as metrópoles incentivavam as tribos africanas a guerrearem entre si entre tribos rivais e escravizarem umas às outras para depois negociarem com os vendedores a troca dos derrotados por panos, alimentos, cavalos e muniçõese e assim os mesmos eram levados à América.
Assim, desta forma a metrópole povoava as terras descobertas e desejava extrair delas a maior quantidade possível de riquezas. “O português vem ao Novo Mundo como empresário. Outros trabalharão por ele”, afirma o sociólogo Rogério Baptistini, professor na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), citando o pensador Caio Prado Júnior (1907-1990). No início da colonização, os portugueses buscaram escravizar os índios de forma sistemática. Mas a iniciativa apresentou uma série de inconvenientes. “Eles não estavam acostumados ao trabalho regular e intenso. Caíam incapacitados com as doenças trazidas pelos europeus e, sempre que possível, se embrenhavam pelo interior do território, que lhes era familiar”, diz Bap-
tistini. Os relatos apontam que, por volta de 1562, duas violentas epidemias mataram por volta de 60 mil índios. Ao mesmo tempo que surgiam as dificuldades com a escravização dos indígenas, os portugueses já estavam envolvidos com o comércio de escravos em um
lucrativo negócio do outro lado do Atlântico. Essa forma de organização do trabalho era adotada nas ilhas africanas dominadas por Portugal e Espanha, como Cabo Verde, Açores e Canárias, que praticavam
o sistema de plantation.
As origens dessa exploração, por sua vez, remontam ao século 7, quando a escravidão doméstica, de pequena escala, passou a conviver com um comércio mais intenso após a ocupação do norte
da África pelos árabes. Centenas de negros eram trocados e vendidos em sua própria terra ou no mundo árabe. Portugal encontrou esse comércio relativamente organizado, começou a se beneficiar dele e depois o trouxe para o Brasil. Assim, a coroa lucrava duplamente: com o comércio de escravos e com o uso dessa mão de obra na colônia. E importante ressaltar que a Igreja não se opôs à escravização do negro, algumas ordens religiosas, inclusive, eram grandes proprietárias
de escravos. A “missão evangelizadora” também era uma justificativa para escravizar os africanos “infiéis”. Além disso, o negro era considerado um ser inferior, uma coisa, não uma pessoa, e por isso não tinha nenhum direito. Dessa forma, gradativamente os negros substituíram os nativos indígenas no trabalho escravo na colônia.
Estima-se que 4 milhões de africanos tenham desembarcado no Brasil entre 1550 e 1850, representando quase 70% da população, trazidos à força de seu continente, de regiões onde hoje estão Angola, Benin, Congo, Costa do Marfim, Guiné, Mali e Moçambique.


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